quinta-feira, 9 de agosto de 2012

o outro lado

todos nos deparamos com os problemas da terceira idade, ou melhor, é bom sinal quando tal acontece. por cá por casa a grande questão é o esforço enorme que a minha avó continua a fazer nas idas à horta. e continua a fazê-lo como se tivesse a casa cheia de filhos, tal como o fazia há vinte anos. cebolas: mínimo cinco centos, batatas: pelo menos três hortas, e assim em diante. temos tudo da horta, havia necessidade não. o esforço que ela tem, o dinheiro que gasta, a idade dela evidente que não compensa. mas vá alguém dizê-lo. o sorriso dela quando alguém trás as suas cebolas, alfaces, feijões é uma delicia. e tem que ser assim. devagarinho foi reduzindo as quantidades mas ainda faz para dar e para vender.
hoje conheci um senhor que me contou o outro lado. ele nos seus oitenta e quatro anos deixou de trabalhar porque os filhos pediram, deixou de sair sozinho porque os filhos pediram, deixou de beber porque o médico exigiu, passou a andar a pé porque o médico aconselhou, agora querem que ele deixe de conduzir. ora aqui pára tudo. diz-me o senhor com a lágrima no canto do olho: se paro de conduzir só me resta morrer. e bateu-me forte. é para o seu bem que os filhos o pedem, mas o senhor já abdicou de tudo na vida.    aconselhei-o a ter calma, e porque não um meio termo? deixar de conduzir à noite e não ir para longe... ele gostou da ideia. disse que ia falar isso aos filhos. que um meio termo lhe parecia justo. e diz-me ele no fim: eu também já quase não pego no carro, mas sei que quando quero posso fazê-lo. 
um meio termo. tentar um meio termo. fiquei a pensar no senhor e não me sai da cabeça aquela lágrima e o só me resta morrer. é preciso saber comunicar, e isso é tão difícil quando se extremam posições. calma e mutua paciência. 

2 comentários:

  1. Por vezes na ânsia de os proteger, acabamos por fazer pior :S
    Porque muitas vezes parar é matá-los...

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  2. O meu pai tem 97 anos e só agora começou a sossegar...e isso não é bom;
    enquanto fazem o que gostam estão benzinho o pior é quando não podem ou não os deixamos fazer alguma coisa de que gostam tanto. Deixa a tua avó fazer o que adora; está entretida e sente-se útil.

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